0-8478-0797-5
Enrico Guidoni
Acervo da Profa. Marcia Sant’Anna.
GUIDONI, Enrico. Primitive Architecture. Milan: Electra Editrice; New York: Rizzoli International Publications, 1987.
Introduction
Chapter I – Architecture and Territory
Chapter II – Architecture and Clan
Chapter III – Architecture and Lineage
Chapter IV – Achitecture, Myth and Power
Notes
Appendix – Primitive Peoples and Their Architecture
Selected Bibliography
Index
Listo f Photographic Credits
O livro é definido como “exploração pioneira de um corpo de conhecimentos que introduz um novo tema na história da arquitetura” e que tem sido tratado principalmente por especialistas em outras disciplinas. Entende-se que a arquitetura desempenha um papel central na vida econômica, social, cultural das populações e reivindica-se que seja estudada não somente como transformações que o homem opera no seu ambiente físico, mas quanto ao seu uso, significado e interpretações, atitudes e explicações atribuídas por quem a produz. Para Guidoni, mais do que tecnologia ou emprego de recursos materiais, a arquitetura é um instrumento político e social que deve ser abordado com relação à sociedade que o produz e interpreta, e com relação às atividades econômicas e rituais com que convive. Defende que a “arquitetura primitiva” seja considerada um tema autônomo, com o seu próprio campo e metodologia, pois entende que tem sido tratada equivocadamente, criticando neste sentido os estudos de Fraser, Oliver e Rapoport. No primeiro, critica a análise a-histórica e centrada em conceitos espaciais elementares, a separação entre relações sociais e ordem espacial e a correspondência entre desenvolvimento econômico e complexidade arquitetônica. O conceito de “arquitetura vernacular” de Oliver é criticado por englobar manifestações arquitetônicas muito distintas, o que comprometeria qualquer pretensão metodológica. Além disso, ao privilegiar ambientes geográficos em vez de complexos históricos específicos, a abordagem de Oliver reduziria tudo a um problema de resposta arquitetônica a um dado ambiente, subordinando fatores histórico-sociais aos ecológico-formais. Guidoni identifica em Rapoport este mesmo tipo de ambiguidade e uma oscilação entre uma abordagem antropológica e outra que denomina de “atomização do sistema arquitetura-sociedade”. Aponta a contradição que haveria em Rapoport ao conceber a arquitetura como um produto de fatores socioculturais e, ao mesmo tempo, considerar clima, construção, materiais e técnicas como fatores modificadores dos primeiros. Entende que essa abordagem supõe um intercâmbio entre tradições arquitetônicas diferentes, ignorando a relação essencial da arquitetura com o território. Como solução, propõe estender a noção de arquitetura para o conjunto “território, assentamento e habitação”, desprezando-se as soluções técnicas isoladas como resultado de pressões ambientais. Para Guidoni, o papel da arquitetura na sociedade, como instrumento de poder e de governo, seria manter a ordem social. Por isso, advoga que o estudo da “arquitetura primitiva” seja orientado por fatos históricos e étnicos específicos. Sua abordagem é história e cultural, indicando o materialismo histórico como um ponto de vista a ser seguido quando se trata de conectar arquitetura e propriedade da terra ou modo de produção e estratificação social. Entende que meios e relações de produção condicionam as relações entre grupo e território e indivíduo e comunidade. Consequentemente, não apenas defende que a “arquitetura primitiva” tem especificidades, mas também que esta expressão difere de “arquitetura popular” ou “vernacular”. Para Guidoni, o termo “vernacular” tem um uso generalizado e pouco rigoroso, designando uma arquitetura produzida fora do registro culto e da arquitetura oficial. Define “arquitetura primitiva” como a expressão das atividades espaciais de uma sociedade pré-estatal que ocupa um território específico e preserva um alto grau de independência política e econômica com respeito às demais sociedades com as quais mantem contato. Já “arquitetura popular”, expressaria as atividades espaciais de um grupo que ocupa um território em subordinação política e econômica a um complexo estatal ou dentro de um sistema desigual de distribuição dos meios de produção. Expressaria então a dependência de uma sociedade em relação a outra, onde a primeira funciona de modo semiautônomo com relação a um centro de influência política e cultural distante. Por essa razão, seria possível encontrar traços primitivos na arquitetura popular, assim como outros importados de modo mais ou menos arbitrário e relacionados à relação mantida com a sociedade dominante. Guidoni recomenda a adoção de dois princípios fundamentais no estudo da “arquitetura primitiva”: aderência à uma perspectiva histórica global, sem perder de vista a unidade entre arquitetura e contextos políticos e sociais, e pesquisa de campo exaustiva, tomando-se como evidência a arquitetura de cada grupo que tenha um conjunto específico de crenças e tecnologias. Esses princípios conduziriam à uma metodologia válida, pois focaliza a “arquitetura do território”, a relação entre propriedade da terra e arquitetura, e os modos como a tradição é utilizada, em seus aspectos simbólicos e artísticos, pelo grupo responsável por sua conservação e renovação. O livro está organizado em amplas áreas geográficas de acordo com a proximidade étnica e linguística dos grupos pesquisados. A organização dos quatro capítulos está relacionada aos problemas postos pela “arquitetura primitiva” e, de modo amplo, aos estágios de desenvolvimento econômico e social dos grupos tratados. O primeiro capítulo não tem foco geográfico e objetiva explicitar os vínculos entre arquitetura e território em populações nômades e seminômades. O segundo focaliza povos das Américas, Sudoeste da Ásia e Melanésia, lidando, principalmente, com as relações entre agricultura, moradia e assentamento. O terceiro capítulo é dedicado à Polinésia e aos índios do Noroeste da América do Norte, tendo como tema estratificação, prestígio social e o desenvolvimento de técnicas construtivas avançadas, e ornamentações elaboradas. O quarto capítulo objetiva ressaltar, a partir de região específica na África Ocidental, a transição e diferenças entre aldeia e cidade a partir dos meios de controle político e social. O Brasil surge, no primeiro capítulo, por meio da descrição da organização do território, do assentamento e da arquitetura dos indígenas Nambiquara e Ianomami; e, no segundo capítulo, das casas comunais dos Tupinambá, Desana e Tucano. Os grupos Timbira, Bororo, Xavante, Carajá, Chambisa e Javahé também são mencionados e resenhados no Apêndice. A obra é fartamente ilustrada com fotografias, iconografias e desenhos sobre a arquitetura e assentamentos “primitivos”.
Marcia Sant’Anna
Daniel Juracy Mellado Paz
Não há tradução desta obra para o português.
Bibliografia indicada:
FRASER, D. Village Planning in the Primitive World. New York: Braziller, 1968.
GUIDONI, E. “Antropomorfismo e zoomorfismo nell’architettura ‘primitiva’”. In: L’Architettura: Cronache e Storia. Milano, 19, 1974.
__________”Etnologiche Culture”. In: Dizionario Enciclopedico di Architettura e Urbanistica. Vol. 3. Roma: Istituto Editoriale Romano, 1968.
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RODRÍGUEZ-LAMUS, L.R. “Arquitectura indígena: los Tukano”. Bogotá, 1966
____________________. “La arquitectura de los Tukano”. In: Revista Colombiana de Antropologia, 7, 1958.