Em livro fartamente ilustrado com fotos, Sibyl Mohony-Nagy defende que os edifícios transmitem a cultura dos povos: sem a arquitetura como autoexpressão, povos e épocas inteiras seriam esquecidas. Ademais, a arquitetura também transmite um outro aspecto da vida: as aspirações dos grupos, a história privada de uma cultura, a luta pela sobrevivência física e espiritual. Pelo porte majestoso das estruturas recentes, os americanos estão cegos para a riqueza dos edifícios anônimos em seu próprio hemisfério. Os novos padrões arquitetônicos atuais são distintos dos da época pré-industrial e cada vez se relacionam menos com design e mais com tecnologia. Existiria, para a autora, progresso nos equipamentos mecânicos, mas não na arquitetura. Seu fim último é a realização da situação do homem na corrente do tempo, operando em ciclos, e não em um progresso linear, com o apogeu quando preenche as aspirações de sua própria época. Moholy-Nagy enfatizará os edifícios dos colonos e não dos nativos. Assim, trabalha exemplos de edifícios de europeus e seus descendentes – espanhóis, ingleses, franceses, holandeses, alemães – assim como descendentes de africanos – em especial, no Haiti. Os exemplos serão de toda a América do Norte: Canadá, EUA, México, Antilhas. Uma certa atenção será dada a grupos religiosos específicos – como presbiterianos, anabatistas, shakers, huguenotes – e mesmo a indivíduos, como a casa de um capitão aposentado, em St. Croix, Ilhas Virgens. O raciocínio é que esses edifícios, em novas terras, são mais primitivos - não mais simples, e sim mais originais, próximos das raízes da arquitetura, a total serviço do homem. E não, como nos tempos modernos, tomados de assalto com demandas técnicas, econômicas, culturais, estéticas, na ausência atual de grandes idéias unificadoras, características das sociedades homogêneas. De toda sorte, é o abrigo humano a primeira causa da arquitetura, realizando a separação do ambiente humano do natural. Separação radical, visto que os três conceitos fundamentais na gênese arquitetônica são princípios rejeitados pela Natureza: a economia, a diversidade e a permanência. Enquanto a Natureza é pródiga no gasto de recursos, a manutenção da vida humana, por sua vez, é baseada na economia. Enquanto na Natureza, não há fenômeno singular, pois todo organismo segue as leis da sua espécie, para o homem, cada abrigo expressa a individualidade de seu construtor e morador, a sua diversidade. E a permanência é a própria luta do homem para preservar a si e suas obras, e é através da casa que ele assegura uma sobrevivência espiritual em seu grupo. O ponto fundamental estaria na adaptação do entorno, transformando obstáculos em recursos, o que criou a arquitetura anônima da Europa: a diversidade de forma e função, a economia de recursos e manutenção e a duração como valor material e símbolo espiritual. No entanto, houve, com o tempo, também a adaptação do homem, seu modo de viver e edifícios, ao meio. Ademais, a eliminação das terras livres disponíveis, e a consolidação da comunidade agrária como forma predominante de existência. Por isso, a resposta dinâmica ao meio cessou de existir, agora consolidada como tradições que se tornaram tirânicas. No entanto, quando, no Novo Mundo, em novas condições, os colonos não tinham o desejo de perpetuar tradições, mas empregavam o brauch. Este termo germânico de difícil tradução é um misto de uso e observação, responsável pela modificação sagaz do herdado, aproveitando-se das circunstâncias. O foco, assim, será nos exemplos que denotem brauch, não a mera aplicação de uma prática coletiva tradicional, isto é, o típico. Outro aspecto importante é a tensão entre forças mecânicas e climáticas contra o homem, e a consequente habilidade e materiais selecionados para fazer frente a esses desafios. Para o colono, cada pedaço, cada parte, está respondendo a um desafio particular: do lugar, gravidade, clima, conforto. Por isso, não há, no elenco de obras expostas, a distinção entre edifícios espontâneos e design acadêmico. O critério será se o edifício, de maneira seletiva, coordenada e coerente, dá resposta aos vários problemas que enfrenta. Não é um elogio ao pitoresco e sim a um certo utilitarismo extremo, como no caso da pré-fabricação. O problema não será a unidade do tipo construtivo, pois a história mostrava vários casos de diversidade na similaridade. Tampouco do primitivismo, já que o objetivo do estudo não é a imitação, mas a inspiração, em especial na qualidade de tais edifícios, de suas respostas concretas a aspirações humanas, e como constituem, inclusive, um microcosmo da totalidade da vida. Existiriam então quatro características na arquitetura anônima: o uso de materiais e habilidades locais; o projeto e construção a partir de exigências funcionais, com condições do sítio específicas e irreprodutíveis; a ausência de ornamentos apostos à estrutura; e a identidade entre forma e espaço. Toda catalogação seria arbitrária e insatisfatória. Assim, dividia o conjunto de exemplos dentro dos itens: lugar e clima, forma e função, matérias e habilidades, e senso de qualidade.