Não se aplica
Jordin Froger
FROGER, Jordin. La favela comme potentiel architectural- Reconsidérer notre façon d’habiter et de construire à travers l’étude d’une alterité. Mémoire de Master, École Nationale Superièure d’Architecture de Bretagne, Rennes, 2016.
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Introduction
Conclusion
Sources et Ressources
Annexes
Nesta dissertação, Froger propõe um novo olhar sobre a maneira de se construir e de se habitar as cidades ocidentais contemporâneas a partir do estudo das favelas cariocas e dos conceitos que as regem. Não se trata de transpor para as cidades europeias um modelo já estabelecido e inserido em um contexto tão diferente, mas refletir sobre como as características positivas do espaço da favela podem contribuir para a produção de uma arquitetura e de um novo papel do arquiteto que sejam mais coerentes com as necessidades e realidades contemporâneas. O autor inicia sua abordagem com o surgimento das favelas e as causas de sua duração, para então analisar os seguintes conceitos inerentes ao seu espaço: fragmento, acidente, bricolagem, “aprojetação” (l’aprojection), evolução, reversibilidade, flexibilidade e movimento. Alguns conceitos abordados (como o de fragmento, labirinto e espaço movimento) foram criados por Paola Berenstein Jacques em sua obra “Estética da Ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica", citada diversas vezes pelo autor. Além disso, a dissertação é ilustrada por fotos e desenhos produzidos por Froger e outros autores. No século XX, a degradação das condições de vida e de trabalho no campo, a industrialização das cidades e sua consequente necessidade de mão-de-obra fomentaram grandes fluxos migratórios para as cidades do sudeste do Brasil. Ao chegar à cidade do Rio de Janeiro, os migrantes procuravam um trabalho no qual pudessem também se alojar e, ao não encontrá-lo, procuravam alternativas na cidade formal. Os altos preços faziam então com que os migrantes acedessem aos morros que, por existirem em abundância, estavam próximos a qualquer possível trabalho. A disponibilidade de terreno e de materiais define o ponto de partida da construção nas favelas. Com a ajuda da família e dos vizinhos, o favelado ergue seu primeiro abrigo com restos de materiais (fragmentos) que serão substituídos a longo prazo, à medida em que a família obtenha recursos para fazê-lo. Froger define três etapas de evolução da habitação nas favelas, no que diz respeito aos materiais construtivos: a primeira é o abrigo precário feito com restos, a segunda é o barraco de madeira e a terceira é o barraco de alvenaria e concreto. A evolução do abrigo, com a homogeneização dos materiais, faz ele perder seu aspecto físico de fragmentação. Contudo, para Froger, o que define de fato a essência fragmentada da habitação é seu estado de eterno inacabamento, já que sempre há algo a acrescentar ou melhorar. O “acidente”, outro conceito utilizado pelo autor para definir a essência das favelas, se opõe à ideia de projeto. Quando não há desenho, há espaço para o inesperado e, portanto, para o acidente. Froger defende que o projeto levado a nível de detalhe não dá espaço para interpretações pelo construtor e engessa o edifício em uma forma irrevogável, o que não é compatível com a busca contemporânea por uma arquitetura mais humanizada. A bricolagem e a “aprojetação” (“l’aprojection”, termo criado pelo autor) são outros dois conceitos relacionados à atitude de não projetar. Para Froger, arquitetura da ação (como é a dos favelados), em oposição à da concepção (dos arquitetos), permite que a habitação esteja em permanente mudança e apresente uma diversidade de soluções, o que é uma qualidade desejável para a arquitetura do futuro. Segundo Froger, a temporalidade é uma noção chave para se compreender a favela, que se relaciona com o tempo efêmero e inconstante. As ideias de eterna efemeridade e evolução são inerentes a ela: desde a construção do abrigo precário e fragmentário, a construção está destinada a se modificar conforme as necessidades e os meios do habitante. Os espaços restritos dos quais dispõem os moradores da favela e o estado de permanente mudança das construções, tornam necessária a adoção de soluções flexíveis e reversíveis, que vão desde os elementos construtivos (ao se permitir a ampliação e verticalização das edificações), até uma escala cotidiana, com a utilização de elementos móveis para realizar a divisão dos cômodos durante a noite, por exemplo. Além disso, os espaços públicos da favela, considerados como verdadeiros espaços de liberdade, também apresentam essa flexibilidade. O autor considera que essa característica e a reversibilidade são conceitos importantes para a produção de espaços públicos e privados na contemporaneidade, já que estes devem ser adaptáveis às necessidades humanas, e não o inverso. Froger utiliza os conceitos de “espaço movimento” e de labirinto, para definir o urbanismo das favelas que, por ser eternamente inacabado, permite a experimentação, a descoberta e a apropriação dos espaços por seus usuários. Além de promover uma sociabilidade maior entre os moradores e aproximar a relação entre a casa e a rua, o labirinto das favelas cria uma experiência espacial única, já que está permanentemente em movimento, capaz de surpreender aquele que vagueia. O mutirão para a construção dos espaços públicos e privados também é um fator importante para a sociabilidade na favela, pois este ato coletivo, segundo Froger, é mais fundador do espírito de comunidade que a própria forma urbana da favela. O autor defende então que o papel do arquiteto na contemporaneidade é de intervir de forma mínima, buscando o máximo de eficiência no espaço construído espontaneamente pelos habitantes da cidade, mantendo as ideias de base e a participação destes últimos no projeto, já que a arquitetura deve estar à serviço do homem e deve ser moldável às suas necessidades, e não o contrário.
Natália Bessa
Márcia Sant'Anna